Um tiro no pé e a cultura em Ipatinga.
No dia 30 de novembro aconteceu no auditório da Prefeitura de Ipatinga uma reunião para escolher 6 representantes da classe artística e cultural da cidade para comporem um conselho para escolher e selecionar projetos culturais que seriam aprovados e avaliados na Lei de Incentivo a Cultura municipal.
Essa reunião foi interrompida. Muito se discutiu, mas o foco e o objetivo da reunião foram perdidos.
O debate das dificuldades do setor cultural em Ipatinga foi o grande pano de fundo das discussões que aconteceram naquela reunião. Representantes da classe artística apresentaram denúncias e dificuldades da política cultural da cidade. Dificuldades na administração da escola pública municipal de música TOM, fechamento da escola de teatro do município e principalmente, interrupção do diálogo da administração municipal com o Conselho Municipal de Cultura em relação a propostas e mudanças no próprio edital da lei municipal de incentivo a cultura.
Na reunião não vimos a posição oficial do Conselho Municipal de Cultura que segundo me consta não tem posição formada em relação a manutenção e a tramitação do atual edital da Lei de Cultura. Essa posição precisa ser conhecida e oficializada para todos.
A administração municipal apresentou suas razões e dificuldades para acatar e receber todos os pedidos de mudança do edital encaminhados pelo conselho. Antes de condenar os agentes administrativos, ou seja, os funcionários e o próprio Diretor da área da cultura, nós devemos pensar que o conselho de cultura da cidade como órgão máximo da representatividade da classe artística, poderia ter discutido os assuntos e apresentado na reunião uma posição oficial para os outros representantes da classe artística que estavam naquela reunião. Não foi o caso, pois alguns desses representantes estavam falando por si só. Houve debate, votação e um racha entre os participantes daquela assembléia.
Os representantes da administração municipal alegaram pouca infra-estrutura para empreender o diálogo solicitado pelo Conselho de Cultura.
Eles não apresentaram apenas pontos negativos, mas também fizeram propostas e ações muito inusitadas para esse ano, ou seja, circularam por todas as regionais da cidade apresentando a Lei de Incentivo Municipal e convocando a sociedade a participar do processo. Essa ação foi isolada e não pactuada com o próprio Conselho de Cultura, mas é uma ação rica e importante para o desenvolvimento da cultura em nosso município e deve ser adotada de forma definitiva nos futuros editais. A cidade e a cultura de Ipatinga ganharam com essa ação.
A reunião não terminou. A classe artística perdeu a oportunidade de indicar seus representantes para a comissão de avaliação dos projetos culturais. Esse era o objetivo da reunião.
A posição ou decisão de interromper o processo foi apresentada por alguns representantes artísticos, mas foi a maioria e suficiente para interromper o processo de votação daqueles futuros revisores. Eram 6 vagas, apenas 5 candidatos, mas candidatos que foram apresentados a classe artística e puderam passar pelo seu crivo ou avaliação.O foco da discussão da noite deveria ser sobre esses candidatos. Quem são, qual sua contribuição para a cultura e as artes da cidade, se o mesmos teriam a devida autonomia e isenção para atuar como avaliadores de propostas culturais. Esse era o grande debate daquela noite.
O processo agora poderá ser feito inteiramente pela própria Prefeitura, ou seja, a mesma poderá nomear todos os avaliadores para os projetos culturais do ano que vem e a classe artística e cultural ficará mais distante do processo. Espero que o bom senso impere e que possamos retomar o diálogo de uma forma mais civilizada e com a possibilidade de construção de uma ação mais duradoura e efetiva.
Talvez o maior problema ainda nem foi abordado ou discutido. Talvez a obstrução do processo que ocorreu seja apenas uma ação para discutir o todo, ou seja, todo o mecanismo do edital.
Seria certo, talvez, que aqueles que não concordem com o edital vigente, façam boicote, não apresentem propostas culturais esse ano. Caso os representantes culturais que não concordem com o atual edital possam apresentar essa posição radical condenando todo o processo e dessa forma colocando sua posição de nem participar do atual edital. Será que esse é o momento desse radicalismo.
O cronograma de liberação dos recursos da lei municipal de cultura, talvez seja, o maior ponto de debate a ser discutido e para isso talvez um diálogo e uma posição mais mediadora possa alcançar o verdadeiro embate que precisa ser travado.
Como que os projetos culturais ao serem aprovados possam ser apresentados ou realizados na cidade, se de imediato, já tem descumprido o seu prazo de realização.Esse debate deve ser levado para aqueles com real condição de discutir o assunto como vereadores, sociedade civil organizada e o próprio Prefeito municipal e sua programação orçamentária.
Espero que o Conselho de Cultural possa convocar reuniões ou debates sobre o tema. Espero que ele possa ouvir todos os representantes culturais e a classe artística da cidade para que haja um legitimo processo de representação de todos. Nós ganharemos com isso e a cidade também. Espero que a administração municipal possa mediar todos os interesses, chamar a responsabilidade executiva que tem e estabelecer pactuações que possam realmente ajudar a cultura de Ipatinga em todas as iniciativas da sociedade civil que contribuam com uma evolução e melhoria das ações e atividades artísticas e culturais da nossa cidade.
Portanto, a reunião foi um tiro no pé, um retrocesso, pois a mesma era apenas uma etapa administrativa de um processo já em andamento, já em curso. O edital já se tornou público e está em processamento.
Questões foram levantadas e não podem se calar. Espero podermos escolher os devidos fórum e locais para cada uma das discussões. Todos estão certos e todos estão errados. Portanto, precisamos de conciliação, precisamos de moderação para não causar danos a cultura e as manifestações artísticas em nossa cidade que tanto são necessárias a vida de todas as pessoas da nossa cidade.
A administração municipal deve dialogar e o representantes culturais da cidade também.
Guilherme Câmara
Presidente
Instituto Cultural Joaquim Ribeiro Sadi
Wwww.vidavalorizada.com.br/sadi
Carta enviada ao Movimento Cultural de Ipatinga, Prefeitura Municipal de Ipatinga, blogs, imprensa do Vale do Aço, entidades Associativas Comunitárias, Presidentes de Associações de Bairros.
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